quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Contando a História de Ouro Fino, para melhor entendê-la...

Confesso que sempre tive uma certa preguiça para me debruçar sobre a história de Ouro Fino, contada com ênfase no poder político das famílias descendentes de portugueses nobres ou não. Foram os paulistas os desbravadores dessas verdes matas, rios auríferos e serras. Muitos aqui permaneceram e tornaram-se os primeiros proprietários deste pedaço de sul de Minas que compreende também outras cidades: Inconfidentes, Borda da Mata e Bueno Brandão, que já teve o poético e religioso nome de Campo Místico.

A história que aqui reconto já foi muitas vezes contadas com melhor exatidão científica. Começa na metade do século 18. Para trás é a história dos paulistas que aqui chegaram à procura de ouro e pedras preciosas. Não vamos ao tão remoto e fiquemos nos últimos 183 anos e consideremos como marco desta história o ano 1823, o do nascimento de Francisco de Paiva Bueno, conhecido como Coronel Paiva.

Dizem os documentos disponíveis que o Coronel, nascido exatamente 100 anos antes de meu pai, Dário Favilla, era comerciante e certamente proprietário rural e de imóveis urbanos, na jurisdição que seria elevada à categoria de município em 1880. Apenas nove anos antes de seu falecimento.

Francisco de Paiva Bueno foi juiz de paz e delegado de polícia. Foi o vereador mais votado, na primeiras eleições municipais de OuroFino. E, como tal, foi presidente da Câmara. Não cumpriu integralmente o seu segundo mandato que iria de 07 de janeiro de 1887 a 01 de março de 1890. Morreu em 1889, um ano depois da Abolição da Escravatura e no mesmo ano da proclamação da República. Interessante, não?

Sentia falta desta contextualização sempre que lia, aqui e ali, trechos esparsos da História de Ouro Fino centrada nas figuras de seus principais clãs políticos. Ou seja, quando Ouro Fino foi, como se diz, elevado,à condição de município, ainda éramos um Império conduzido por Dom Pedro II. O título de coronel de Francisco de Paiva Bueno deveu-se ao fato de ter integrado a Guarda Nacional, milícia civil que vigorou de 1831, quando Dom Pedro II era ainda príncipe regente (só viria a ser coroado imperador em 1844), a 1922, quando foi oficialmente desmobilizada.

Bem, prossigamos. O Coronel Paiva casou-se aos 21 anos com Francisca de Paula Sanches, da qual era parente. Francisca vinha das linhagens Sanches Brandão e Bueno da Silva. Desta última, o representante mais conhecido é o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhangüera. Francisco e Francisca eram Bueno, parentes do bandeirante. O casal teve nove filhos que deixaram de assinar Sanches. Estava fundado assim o clã Paiva Bueno Brandão.

Dos nove filhos de Francisco e Francisca, dois constam da história da chamada República Velha: Maria Isabel de Paiva Bueno Brandão e Júlio Bueno Brandão (deixou de usar o Paiva). Maria Isabel casou-se com o primo Francisco Silviano de Almeida Brandão, que ocupou a presidência de Minas Gerais de 1898 a 1902. Eleito vice do presidente Rodrigue Alves, faleceu antes da posse em setembro de 1902. Júlio Bueno Brandão, que nasceu em 1858, foi presidente de Minas Gerais de 1910 a 1914, deputado e senador varias vezes. Faleceu no Rio de janeiro em 1931, aos 73 anos.

Júlio Bueno Brandão, filho do Coronel Paiva, foi uma das lideranças políticas apoiadoras da mudança do regime político monárquico para o republicano. Quando a República foi proclamada tinha 31 anos. O pai tinha, então, 75 anos e passou apenas um sob o novo regime.

Quando a escravidão foi abolida e a República proclamada, Ouro Fino não era mais só habitado por descendentes de portugueses. Já havia famílias italianas por aqui. Há relatos, que meu avô Anibal Favilla "perdeu-se" alguns dias da mulher e filhos (risos), para celebrar intensamente com a comunidade afro-descendente a Abolição da Escravatura. Deve ter comemorado também a Proclamação da República.

Meu bisavô paterno, era de família de posses da região de Lucca, linda cidade da Toscana, um dos berços da Renascença. Mudou-se para o Brasil porque se desentendeu com o pai ao casar-se com uma moça pobre, analfabeta e muito esperta, Cesira (Cecília) Palmini. Tão esperta que por três ou quatro vezes (não se bem ao certo), quando morria alguém da família Favilla, pegava o trem em Ouro Fino e depois o navio e Santos, para reclamar o quinhão que lhe pertencia na herança. Annibal e Cecília chegaram à Ouro Fino depois de alguns anos em São Paulo. Meu avô Dante Favilla está registrado no cartório do Brás, como Virgílio. As informações é de que teria chegado aos dois anos ao Brasil, já registrado na Itália pelo primeiro nome. O segundo registro era a forma de providenciar a naturalização imediata da prole.

Meus bisavós maternos, Ferdinando Marcílio e Marietta Ceccon chegaram da região do Vêneto, de uma cidadezinha perto de Verona, já proclamada a República. Chegaram como imigrantes, já casados, e depois de cumprirem a quarentena em Santos vieram direto trabalhar na Fazenda Córrego da Onça, terras que hoje sob a juridição de Inconfidentes. Minha avó Venerina Marcílio nasceu lá em 11 de agosto de 1899. Antes fizeram um pit stop em Santa Rita do Sapucaí para que Marietta desse à luz às gêmeas Rita e Ambrósia.

Mas deixemos de digressões, mesmo que sejam importantes por contextualizar famílias de sobrenome não português,na História de Ouro Fino. No dia 28 de setembro de 1906, o presidente de Minas Gerais, João Pinheiro, vinte e dois dia após a posse, assinou a Lei 439 que permitiu uma radical reforma de ensino consistente com os ideais de modernidadem ordem e progresso da nascente República. No mesmo ano, um grupo de cidadãos de Ouro Fino organizou a Liga de Instrução para viabilizar a construção de um Grupo Escolar. Integrava a liga, o presidente e tesoureiro da Câmara Municipal, Nicolino Rossi.

Criada a Liga de Instrução, o senador e vice-presidente de Minas Gerais, Júlio Bueno Brandão, doou a antiga residência de seus falecidos pais, Francisco Paiva e Francisca Sanches Bueno, para que fosse demolida e, no terreno, construído o Grupo Escolar que foi batizado de Coronel Paiva. As famílias italianas também começam a acontecer na História de Ouro Fino na lista dos dez primeiros matriculados no Grupo Escolar, como também de seu corpo docente. Entre os alunos: Atílio, Natali e Umberto Guidi. Entre os professores: José Pennachi.

Era março de 1909. O Grupo Escolar Coronel Paiva estava inaugurado e em funcionamento com mais de 400 alunos. O Brasil moderno começava a nascer também aqui no Sul de Minas, com a contribuição dos imigrantes italianos.
Não vou contar a História de Ouro Fino sem puxar a brasa para a minha sardinha, não é mesmo? O desenho do Brasil litorâneo e profundo foi feito pelos clãs portugueses. O novo Brasil com gente do mundo inteiro, até do longinquo Japão.

http://twitter.com/clarafavilla

Um comentário:

  1. Estou com uma duvida, Francisca de Paula Sanches casada com Francisco de Paiva Bueno, foi colocados que são parentes, mas não consegui ver descendentes correlacionados entre eles, sobretudo da familia Bueno Brandão, alguem poderia me ajudar neste fato?

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