domingo, 6 de setembro de 2009

Cortando amarras afetivas, queimando possibilidades de regresso...

- continuação do post anterior -

Meu bisavô Ferdinando Marcílio, ao imigrar com a mulher Marieta, grávida de gêmeas para o Brasil, trouxe toda a família, a mãe viúva, Carolina, o irmão casado, João, e a irmã, Maria. A mudança era sem volta. Ao aportarem aqui, cortaram os laços com a Itália. Laços que começaram a ser rompidos na longa travessia.

Quando embarcaram destruíram os caís de partida e, ao aportarem em Santos, queimaram os navios da possível volta, depois de cortar-lhes as amarras e jogarem ao mar âncoras afetivas. Para um italiano da estirpe de meu avô, homem casado só tinha compromisso com a própria família, representada pela esposa, filhos, irmãos e a mãe. E com esses tesouros reconstruiu, no Brasil, sua vida.

Vó Iná ao me contar, em parte,a saga familiar, me reforçou com suas histórias o que aprendemos em aulas de Cultura Brasileira, na Universidade. A importância dos italianos na formação da poupança nacional. Os descendentes ricos dos antigos portugueses eram donos dos extensos latifúndios no final do século XIX e início do século XX, no sul de Minas. Tudo havia lhes chegado por herança desde a divisão do Brasil em sesmarias. Não trabalhavam. Primeiro tinham os escravos e depois os imigrantes. Tinham casas em São Paulo, faziam longas viagens à Europa com os filhos.

Ou seja, gastavam, gastavam. Quando ficavam sem dinheiro, vendiam nacos de terra, como se a propriedade não tivessem limites. Assim, parte das terras foi sendo transferidas para italianos que chegaram com outro tipo de proposta de trabalho e objetivo de vencer na vida. Não eram escravos, e nem camaradas que nasciam e morriam nas fazendas. Passaram a requisitar parcelas para produzirem por conta própria. E produziam o que a fazenda não tinha e passavam a ser, além de empregados, também fornecedores. Criavam porcos, galinhas, tinham grandes hortas e pomares. Faziam sabão, banha de porco, manteiga, pão para consumo próprio e também venda.

Não gastavam tudo que ganhavam na venda direta aos fazendeiros e também nas feiras e mercados da cidade. Guardavam. Meu bisavô, Ferdinando, além de trabalhar na lavoura, era marceneiro e fazia cadeiras com assentos e espaldares trançados de palhinha. Na tarde de hoje, conversei por telefone com meu tio Ângelo, e ele me disse que Ferdinando não dava conta das encomendas que tinha. Tudo era vendido para moradores de Ouro Fino, assim como o que produziam de hortigranjeiros por conta própria em Angú Frio.

A fazenda do Dr. Luiz Miranda, em Inconfidentes, então comarca de Ouro Fino, fica (parece que existe até hoje com o mesmo nome) na Bacia Hidrográfica, formada por vários cursos d’água, entre eles o Córrego da Onça, referência na certidão de nascimento dos filhos mais novos. Outra é o bairro rural de Santa Isabel. Na verdade, o mesmo lugar.

Inconfidentes é distante apenas sete quilômetros de Ouro Fino. Santa Isabel, o bairro, fica exatamente no trevo de entrada de Inconfidentes. Nasceram em Angu Frio: Ermígio Ângelo, em 10 de outubro de 1896; as gêmeas, Venerina e Esterina, em 11 de agosto de 1899; Luíza, em 28 de setembro de 1901; Maria (Mariquinha) em 12 de setembro de 1903; as gêmeas Antônia (Antonieta) e Carolina, em 01 de março de 1906; Isolina, em 16 de junho de 1908; (Caetano) José, em 11 de setembro de 1910. A última filha do casal, Julieta, já nasceria na cidade de Ouro Fino, em 27 de abril de 1913. Morreu ainda criança.
- continua -

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