sábado, 31 de outubro de 2009

Antes que tudo seja carregado pela chuva do tempo, até nossas lágrimas...

Não se ouve mais a palavra alpendre. Mas era essa pequena área aberta, antes da porta da sala de visitas que davam charme especial às casas do interior. E alpendre tinha que ter algum enfeite como colunas e seus capitéis e recortes no viga de sustentação do teto e no murinho que recebia o portão.
Estas colunas ganharam ainda mais relevância em contraste com a parede colorida da casa do vizinho...
As colunas das fotos acima enfeitam o alpendre de uma das casas de minha infância e juventude. A casa onde viveu Dona Leonina, mãe do meu tio Mário Siqueira, que foi casado com a irmã mais nova de minha mãe, Isolet Pellicano.
Nesta casa viveu Dona Leonina até se despedir dessa vida. Também viveu meu tio Mário, nos últimos 30 anos. Não quis acompanhar mulher e filhos que se mudaram para Brasília. Homem da roça o que faria naquele asfalto todo?
A varanda da casa não tinha o conforto de um peitoril suficiente para que os moradores se debruçassem para acompanhar o movimento da Avenida Delfim Moreira. Então era nessa janela que Dona Leonina e depois meu tio Mário, recentemente falecido, passavam as tardes.

Depois da morte de meu tio, minha prima Maria Elisa, que tinha a posse da casa, colocou-a venda. Já deve ter novo proprietário porque a placa de vende-se não está mais lá. Está fechada e triste. Qual será o seu destino? Dizem que é a demolição para dar espaço a outro ponto comercial. E assim a velha avenida de casas na cidade que abrigavam de gente da roça, vai mudando de feição.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Por do sol em Ouro Fino. ..

Visto da casa da janela da casa da minha prima Glória, perto do Montanhês Club..
Rua da casa da prima Glória. Casas rosadas pelo crepúsculo.

Igualzinha a da Dona Irene!!!

Oi amigos! Desde ontem, terça-feira à noite estou na cidade. Estive antes em Monte Sião para cobrir pela Agência Sebrae de Notícias o encontro de representantes de cooperativas de crédito com foco em micro e pequenas empresas.

No início da noite desta quarta, 28, fui conferir com minha prima Glória se a salada de frutas da Soverteria do Ádio continuava com mesmo com o mesmo sabor da minha infãncia e adolescência Meus primos Amélio e Dulce Helena me haviam dito que sim, que elacontinua igualzinha a que Dona Irene, mãe do dito, Claudinho e Rose, fazia.

Dona Irene e o marido Ádio, primo de meu pai Dário Favilla, já se foram. Acho que os três estão de papo lá no céu. Mas a herança que deixaram por aqui continua viva!!!
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Provei, e estava deliciosa. Antes de ir embora vou conferir de novo!
Confira você também!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Somos o povo da Avenida...

A Avenida Delfim Moreira já foi apenas uma das saídas da cidade para as fazendas da redondeza...
Ali se estabeleceram, nas primeiras décadas do século passado, os Pellicanos, os Marcilios, os Cecons, os Favillas, os Germinianis, os Siqueiras... Sobrenomes que se entrelaçaram e dali se espalharam, primeiro pela cidade mesmo e depois pelo Brasil...
A Delfim Moreira da minha infãncia era de chão batido, cheia de enxurradas perigosas em dia de chuvas. As enchentes continuam por ali. Mas a avenida está asfaltada e o trãnsito de carros de bois, boiadas, charretes e jeeps foi substituído por automóveis, caminhonetes e motos...
També está perdendo a sua característica residencial e boas casas, como a que minha mãe e tios nasceram, estão sendo transformadas em modernos pontos comerciais.
Mas essas arvorezinhas floridas ainda lhe dão um certo encanto. E com elas homenageio tantos passos ali dados por meus antepassados e pelas crianças que eu, minha irmã e primos fomos um dia!!!

Mercado Municipal de Ouro Fino

Ir ao mercado, ao sábados bem de manhã, continua sendo um grande programa que atrai tanto pessoas da cidade, dos municípios vizinhos e turistas.
Cada vez mais paulistas procuram propriedades nas redondezas para se estabelecerem nas férias e fim de semana.
Então, um local para se vender também a produção local é incentivado bastante por consumidores de maior renda à procura de produtos diferenciados. Na foto acima, broa assada em folha de bananeira.
Consumir o que é produzido localmente é chique. O consumidor está atento para alimentos orgânicos, obtidos e transportados de forma sustentável.
Tudo conspira, assim, a favor, das chácaras, sítios e fazendas que mantiveram, por exemplo, o antigo moinho de fubá de seus bisavós. Sabe, aqueles, onde grãos são colocados lentamente sob duas pedras redondas movidas por uma roda d'água. Faz alguns anos, vi um desses em funcionamento lá pelos lados de Diamantina e o fubá sai finíssimo e com uma aroma todo especial.
No mercado de Ouro Fino é possível comprar desse fubá feito artesanalmente com milho produzido no próprio sítio. Assim como farinha de milho, aquela com grandes e sequinhos bijus.
Rapaduras e queijos frescos.
Vários tipos de cachaças e verduras e legumes.
Na foto acima, quirelinha. Milho quebrado em pedacinhos bem miúdos,sem ser moído. É uado para fazer uma espécie de sopa que serve de acompanhamento para costelinha de porco assada ou frita.
Farinha de mandioca torradinha.
Pode se comprar pamonhas daquelas bem fininhas, cremosas e queijo derretido dentro. Feijão novinho. Pimentas de todas as cores. Doces caseiros. Vale a pena frequentá-lo.

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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O melhor arroz doce era o da Vó Quinha do Flávio, da Marta Pellicano, do Nado, do Cau...da Dulce Helena...


Não troco arroz-doce por nenhuma torta, bolo, pudim, e tudo o mais que faz nossos olhos saltarem de gula e a boca cheia de saliva.

Tenho paixão por arroz-doce, mas não por qualque arroz-doce. Tem que ser branquinho, cremoso e se possível sem a ajuda de leite condensado. Como arroz doce quente, orno, frio, gelado. Com ou sem acanela. Com ou sem cravo-da-Índia. Não gosto de côco e nem de açúcar queimado no arroz doce.

O meu arroz doce predileto está na cristaleira da casa da Vó Quinha, Dona Mariquinha, a avó e mãe de criação da tia Graçy Guimarães , que foi casada e depois viúva do irmão de minha mãe, Ido Pellicano. Vó Quinha também criou como filhas outras duas irmãs de tia Gracy, a tia Lourdes que ainda mora em Ouro Fino e completou 93 anos neste mês de outubro e da tia Zaíra, que mora em São Lourenço. Tia Lourdes faz até hoje o mais maravilhoso dos crochês com linha finíssima e sem óculos. Adora uma novela.

O meu arroz-doce predileto era feito à tarde, depois do almoço, enquanto ainda estávamos no Grupo Escolar Coronel Paiva. E a panela aguarda embaixo de um pano de prato alvíssimo que, esganados, tracemos tudo o que ficou grudado no fundo e nas laterias. Muito bom!!!

O ruim do arroz-doce da Vó Quinha é que ele nunca foi suficiente para acabar com nossa esganação. Quanto mais comíamos, mais queríamos. Vó Quinha morreu com cem anos. Foi dona de Hotel, Sá. É aquele terreno vazio emurado, em frente da Estação Ferroviária. O edifício foi demolido. Crochetou a vida inteira. Era brava e exigente. Nas camas de crochê impecavelmente arrumadas ninguém se atrevia a sentar. Dava-nos cada bronca! Nunca foi de muitos afagos. E não tinha papas na lígua. O que tinha de falar, falava na lata.

Mas me explico, lembrei-me aqui do arroz-doce de Vó Quinha porque ao pesquisar sobre Nina Salvi, a escritora de temas infantis, fiquei sabendo que ela é de Curvelo. Foi nesta cidade que duas décadas atrás comi num bar do centro o melhor arroz-doce do mundo. Depois, é claro, do arroz-doce da Vó Quinha. Saudades!

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Momentos felizes deixam raízes...

Clara,

Sou leitora do Blog do Noblat já há algum tempo mas raramente acesso as indicações dadas por ele, geralmente por absoluta falta de tempo. Hoje dando uma passada de olhos rapida deparei-me com a indicação do seu blog e não resisti ao impulso de fazer um comentário.

Ouro Fino me traz lembranças muito felizes. Fui por inúmeras vezes hóspede das irmãs Burza, Julieta e Maria Luiza. Maria Luiza, que me foi apresentada como Marilu, era muito amiga do meu tio Darhy, carinhosamente chamado de Darhizinho por ela. Eles conheceram-se em uma viagem de ambos pela europa e mantiveram desde então uma amizade que durou pela vida afora, até que Marilu foi-se embora há alguns anos. Meu tio Darhy também nos deixou há 1 ano e meio, curiosamente vítima do mesmo mal que levou Marilu, o AVC.

Passei momentos maravilhosos no casarão de Julieta e Marilu, a casa sempre cheia de amigos que vinham tomar um cafezinho e aproveitavam para prosear um pouco. Hoje vivo em Portugal e por um instante me senti novamente naquele casarão maravilhoso, naquela cozinha com fogão de lenha ouvindo as histórias da Maria e foi uma sensação ao mesmo tempo boa e ruim.

Boa porque pude relembrar um pouco um tempo que ficou distante, ruim porque algumas das pessoas que também estiveram lá, hoje só estão na minha memória e daqueles que partilhavam aqueles momentos especiais.

Um abraço,
Rosemary Esteter
Lisboa - Portugal

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Lea também leu livrinhos de Nina Salvi


Clara,
seu livrinho me lembrou do meu. Somos contemporâneas e aos sete anos ganhei da dulcíssima professora Terezinha de Jesus Arantes, As Aventuras de um Mosquitinho, escrito pela mesma Nina Salvi, e que também me acompanha até hoje.

Tenho muitos parentes colaterais de Ouro Fino, que não é muito longe da cidade de Mogi-Guaçu, onde nasceu minha mãe e que adotei como torrão natal, embora tenha vindo ao mundo nesta paulicéia desvairada. Parabéns pelo blog, que pretendo acompanhar.
Lea Beraldo

Comento: Bem que eu procurei mais informações, fotos e capas de livros infantis de Nina Salvi, na internet. Mas bem pouco achei. Apenas uma pequena nota disponível no portala da cidade de Curvelo, Minas Gerais, cidade natal da escritora informa que o nome verdadeiro dela era Noêmia de Salvo Souza, nascida a 25 de fevereiro de 1902, filha do major Antônio Salvo e de dona Maria Bella Penna de Salvo.
Premiada em concurso de literatura infantil do Ministério da Educação, não parou mais de contar suas histórias e encantou a crítica e o público leitor, principalmente as crianças.
Dentre outras obras, lançou: “O Milho de Ouro”, “O Tesouro da Ilha”, “Os Anões Encantados” e “A Ceguinha do Poço”. Chegou ao teatro com “Ana Lúcia no País das Fadas”, livro colocado pela UNESCO, em 1974, entre os melhores da literatura infantil no contexto internacional.
Bem querida Lea, Nina Salvi foi tão importante para as crianças da década de 50 e 60 que merecia ter seus livros todos digitalizados, organizados por data de publicação. Nem a foto da escritora está disponível. Infelizmente.

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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Ah! o doce pássaro da juventude... A cidade envolve e dá aconchego aos personagens da foto.

- clique na foto para ampliá-la -

Toda vez que eu fico triste, achando que a vida dos meus pais poderia ter sido diferente, menos árdua, mais leve, esta foto me consola. Ela me prova que foram jovens, lindos, vestiam-se bem e divertiam-se com os amigos. O clã Marcílio/Pellicano, além de grande por si mesmo, sempre estava agregando um sem número de amigos comuns. Meu pai dizia que minha mãe nunca era só ela: era ela e uma penca de irmãs, irmãos, primas e primos. Meu pai gostava de todos e combinava com todos.


Na foto, dois casais de namorados, mais lindos impossível! À esquerda: meu tio Ângelo Pellicano e a namorada, Cyrinéia Santa Rigotto; à direita meu pai, Dário Favilla (fazendo careta) e minha mãe, Elza Pellicano, recostada na grama. A menina que está perto dos meus pais é a Martinha Pellicano. O rapaz moreno, não me lembro quem é. O garoto lindo da frente é o José Carlos Pellicano, o Canarinho. Tinha esse apelido porque era ruivo alourado. Perto do Canarinho, meio escondido pela grama, acho que é o Ronaldo, irmão dele. Logo atrás, está minha tia e madrinha Nair.

A moça que se destaca ao fundo é a Tidinha, filha da Dona Tina Rigotto, a parteira emérita da cidade. Não me consta que ganhasse dinheiro com esse trabalho. Perto da tia Nair, está a tia Jovina, na verdade uma prima de minha mãe. Tia Jovina é minha madrinha de crisma e foi casada com um homem lindo de olhos verdes e completamente careca, o João conrado. Tiveram, depois de onze anos de casados, um único filho, o José Arthur. As outras moças clarinhas, são também primas da minha mãe, filhas de um irmão da Vó Ina, o Ângelo Marcílio.

A foto tem um grande personagem que envolve a todos, a cidade de Ouro Fino. Foi tirada de cima de um morro que hoje só existe pela metade. A outra foi aplanada para se construir a ligação da cidade com a rodovia principal sem que fosse preciso se passar por dentro, pela Rua 13. Quando eu era criança ainda havia um cruzeiro em cima desse morro e também um luminoso com o nome de um partido político, o PSD, extinto com o golpe de 1964.

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Fórum, colunas em estilo jônico...


O corpo central onde encontram-se o átrio e hall de distribuição é bem avançado em relação às laterais apresentando uma série de colunas jônicas de fuste liso encimadas por entablamento e cimalha formando a base do ático.

Cada lateral da fachada possui duas janelas retangulares ladeadas por pilastras também jônicas e fuste com caneluras, cimalha seguindo o estilo do corpo central e platibanda.


O ático é extremamente ornamentado, mas possibilita a visualização da cobertura da cúpula que fica no hall de distribuição e é sustentada por quatro colunas jônicas iguais as do átrio.

Fonte: Inventário do Patrimônio Cultural da Cidade de Ouro Fino


Saiba mais:

Ao contrário da coluna dórica, a jônica não assenta diretamente sobre patamares, mas tem uma base - plinto - que assume diversas formas. A vantagem do plinto é que todo o conjunto ganha maior leveza. O fuste, por sua vez, afina um pouquinho em direção ao capitel.

A coluna é elegante não só porque é mais alta em relação ao diâmetro (corresponde a até 9 vezes o diâmetro, enquanto a dórica não passa de 5 vezes e meia) mas também pelo fato de possuir maior número de caneluras - frisos verticais da coluna - de 24 a 44 (na dórica são de 16 a 20).


Fonte: Wikipédia

Fórum, arquitetura eclética e neoclássica...

"O Fórum de Ouro Fino, denominado Palácio da Justiça Júlio Bueno Brandão Filho, possui características do ecletismo com predominância do neoclassicismo de volume simétrico."
Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Prefetura de Ouro Fino

O termo ecletismo denota a combinação de diferentes estilos históricos em uma única obra sem com isso produzir novo estilo. Tal método baseia-se na convicção de que a beleza ou a perfeição pode ser alcançada mediante a seleção e combinação das melhores qualidades das obras dos grandes mestres.

Como movimento artístico, o ecletismo ocorre na arquitetura no século XIX. Por volta de 1840, na França, em reação à hegemonia do estilo greco-romano os arquitetos começam a propor a retomada de outros modelos históricos como, por exemplo, o gótico e o românico.

Edifício da Praça da Liberdade, BeloHorizonte,exemplo de arquitetura eclética

O principal teórico do ecletismo arquitetônico é o francês César Denis Daly (1811 - 1893), que o entende como "o uso livre do passado". Não se trata de uma atitude de simples copista, mas da habilidade de combinar as características superiores desses estilos em construções que satisfaçam a demandas da época por todo tipo de edificação.

Na segunda metade do século XIX, o ecletismo tem forte presença na Europa. O estilo Segundo Império ou Napoleão III, na França, é caracterizado pela realização de importantes edifícios ecléticos, como o Teatro Ópera de Paris, projetado por Charles Garnier (1825 - 1898).

Sede do Jockey Club do Rio de Janeiro, exemplo de arquitetura neoclássica

Movimento cultural do fim do século XVIII, o Neoclassicismo está identificado com a retomada da cultura clássica por parte da Europa Ocidental em reação ao estilo Barroco. No entanto, o Neoclassicismo propõe a discussão dos valores clássicos, em contraposição ao Classicismo renascentista, que apenas replicava os princípios antigos sem críticas aprofundadas. A concepção de um ideal de beleza eterno e imutável não se sustenta mais. Para os neoclassicistas, os princípios da era clássica deveriam ser adaptados à realidade moderna.

Fonte: Wikipédia

Feliz demais!!!

Gente me emocionei com os comentários referentes ao meu post anterior!!!
A todos os leitores deste blog, meu carinho e gratidão!!!
beijos

sábado, 3 de outubro de 2009

Deu no Noblat: - blogueiro de Política de O Globo

Vale a pena acessar
Dica de blog
Blog da cidade de Ouro Fino

Clara Favilla, jornalista da área econômica, moradora de Brasília criou um blog. Lá, ela posta reportagens e conta histórias presentes e passadas de sua pequena cidade natal, sul de Minas Gerais, a partir de seus habitantes, da sua arquitetura e da relevância política e econômica que teve e tem.

Veja : http://blogdacidadedeourofino.blogspot.com/

Comento:

Ouro Fino também está presente no meu blog pessoal: htpp://clarafavilla.blogspot.com

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Meu primeiro livrinho de histórias


Ganhei de uma tia querida, a tia Gracy. Eu tinha sete anos, adorava ler e ficava assaltando a estante de meus primos mais velhos, filhos dela, o Ronaldo e o Flávio. Estávamos de mudança, noutro dia para Arapongas, Paraná. Depois de nos deixar por uns tempos na casa da minha avó, meu pai conseguiu arrumar a vida bem longe de Ouro Fino, Minas, e veio buscar a família. Já não éramos apenas pai, mãe e duas filhas. Um terceiro bebê havia nascido enquanto ele estava longe, um menino.

Estávamos empolgados! Fariámos uma viagem de ôníbus até São Paulo, onde pela primeira vez eu dormiria em hotel e, logo pela manhã, pegaríamos um trem para Arapongas, passando por Ourinhos e Londrina. Tia Gracy , professora de profissão, me trouxe de presente este livrinho da Edições Melhoramentos, que me acompanha por todos estes anos e tem lugar de destaque na minha estante.

A autora é Nina Salvi, as ilustrações são de Oswaldo Storni. O livro tem mais duas histórias: O Menino Jesus e a Borboleta e o Menino Jesus e o Macaquinho.A menina ceguinha se chama Sarita e vive com a avó velhinha e pobre, na aldeia de Sicar, na Palestina. A história se passa quando Jesus tinha 12 anos. Depois eu falo sobre as outras histórias. Tenho um grande amor por este meu livrinho.

Sarita passava os dias perto do Poço de Jacó, construído muitos anos antes do nascimento de Jesus, para que os viajantes que por ali passassem encontrassem água limpa e fresca. A menina todos os dias era trazida pela avó até o poço e passava horas inteiras cantando e ouvindo o canto dos pássaros, à espera de algum viajante, que lhe desse uma moeda. Era cega de nascença. Seus olhos nunca viram a luz do dia. Entretanto, não se sentia infeliz. Uma velha cigana lhe dissera, um dia, que ela haveria de ver o céu, as estrelas, as flores e os pássaros. E ela acreditava piamente naquela profecia.

Pois bem, como Sarita era criança e vivia na Palestina, no tempo de Jesus, dá para imaginar o final da história, não é? O que é engraçado neste livrinho é que a ilustração da capa não corresponde à história principal que lhe dá o nome. A ilustração refere-se a segunda história, a do Menino Jesus e a Borboleta. Mas dessa, só conto o milagre em outro post. Aguardem!

Foto do livro: Thiago Spessato Pimenta (de celular)

Texto publicado originalmente em 24 de maio de 2008
em: http://clarafavilla.blogspot.com

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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Meninos e livros

Uma das paisagens mais lindas é a de estantes de livros

Nem a melhor e maior tela de computador e tudo o que ela permirte substitui, para mim, o prazer de folhear, de ler um livro? Ler jornais e revistas, notícias nos sites e portais especializados é um conforto indispensável. Mas quem adormece, na cama, rede ou sofá, abraçado ao computador? Mesmo daqueles pequenininhos?

A professora Célia Buti com uma de suas classes na biblioteca da Escola Estadual Coronel Paiva de Ouro Fino

A internet cada vez ganha maior velocidade e, por meio dela, abrem-se para nós as portas do que há melhor no mundo e o pior também,questão de escolha. Lembro-me da primeira vez que acessei o portal do Vaticano e ali encontrei a entrada do museu, da Sala de Rafael e seus filósofos, a Capela Sistina de Michelângelo. Mas nada substituiu no meu coração a alegria que senti quando ganhei meu primeiro livrinho de histórias.

Eu fazia o primeiro ano primário com Dona Lígia Margini, no então Grupo Escolar Coronel Paiva. Encerrado o primeiro semestre, nos mudamos para Arapongas, cidade do norte do Paraná.Na véspera de nossa partida, Tia Gracy Guimarães, já víuva de um irmão de minh mãe, me chegou com olivrinho mais lindo da minha vida. A ceguinha do poço. Na capa, o menino Jesus e borboletas coloridas.

Tenho o livrinho até hoje, guardado com muito carinho na estante do meu escritório. Tia Gracy, já falecida, lecionou no Coronel Paiva e é uma das professoras fotografadas por ocasião do centenário da escola, em 1959, quando eu tinha nove anos. A foto está publicada neste blog.

Os alunos da professora Célia são os que mais retiram livros para leituras em casa

A biblioteca do Coronel Paiva é um espaço bastante dinâmico e bastante frequentado

A professora Célia com um de seus queridos e estudiosos alunos

Achei muito lindas as caixinhas usadas para separação dos livros por conteúdo: poesias, peças teatrais, clássicos...
Meninas lindas reunidas para a leitura na biblioteca. No dia que visitei o Coronel Paiva, a professora Célia aplicava uma verificação de Lingua Portuguesa, para os alunos da sétima série. com base em um texto de Graciliano Ramos.

Minha primeira "palestra", mais uma conversa, foi no Coronel Paiva onde estudei...

Foi com muita emoção que passei por essa linda entrada do Coronel Paiva para meu encontro com os alunos da professora Célia Buti

Minha vida, há 32 anos, tem sido o jornalismo diário. E repórter, muitas vezes, na elaboração de uma matéria, precisa falar, num mesmo dia, com atores dos mais diferentes extratos sociais e políticos. Numa matéria, todos tem o mesmo peso. Não adianta o ministro achar aquela medida a mellhor do mundo, se ela não for aceita pelo ascensorista, a costureira, a dona de casa, o motorista de taxi e por aí vai.

Por isso, vamos colhendo informações aqui e ali que resultem em matéria consistente e publicável, ouvindo todas as partes interessadas. O porteiro do prédio, em termos jornalísticos pode ser um personagem tão interessante quanto o ministro e o presidente da República. Numa boa matéria, todos tem boas razões, o governo e a oposição. É do contraditório que se extrai o que pode ser melhor do ponto de vista do leitor.

Meu pai ficava intrigado com esse meu jeito de falar , segundo ele coloquial e até displicente, com gente VIP, o tal do Very Important People. Assim, por telefone, nas horas mais inusitadas do dia.Muitas vezes, quando eu desligava o telefone, nem acreditava com quem eu estava falando...

Às vezes, meu pai achava que eu dava importância demais ao que o motorista de táxi me dizia. E que tratava como trivial o que um ministro tinha acabado de me dizer. Como se houvesse dois pesos e duas medidas para se avaliar o que cada qual tem a dizer sobre o mesmo assunto. Quem sabe mais dos problemas de trânsito? O taxista ou o engenheiro, muitas vezes de fora, que sobrevoa a cidade de helicóptero?

Digo tudo isso porque comecei minha vida profissional como repórter e quero encerrá-la nesta mesma condição. Sempre me foi um suplício outra atividade em jornalismo que não a ligada diretamente ao que acontece. Não gosto de coordenar, de chefiar, só gosto mesmo de, como se diz, 'carregar piano'. No máximo, editar revistas.

Por isso, enquanto muitos colegas que começaram comigo na profissão estão em cargos relevantes na área de comunicação pública e privada, inclusive com agendas de palestra no Brasil e no exterior, eu continuo nesse meu humilde mister de escrever diariamente sacrossantas linhas. É o que mais gosto.

Não levo jeito para defender causas, nem partidos, nem para fazer meio de campo entre a alta hierarquia dos meios de comunicação e o reportariado. Sou chata e sem um pingo de paciência, devo confessar. Nunca estudei pra concurso público. Por isso, já em idade de me aposentar continuo no trabalho duro diário. Também não sei como se aposenta da paixão pela escrita..


Então, foi assim que, estando em Ouro fino, com alguma relutância aceitei o convite da Professora Célia para conversar com seus meninos. Não estou acostumada a este tipo de exposição. Mas o convite foi tão carinhoso e cheio de expectativas que aceitei. E foi muito bom ter aceito porque simplesmente adorei!
Conversamos sobre jornalismo, sobre a importância da informação, sobre internet, blogs e o Twitter. Fiquei muito feliz com esse encontro e quero repetí-lo. Achei as crianças e adolescentes do Coronel Paiva lindas em seus uniformes e mochilas para todos os gostos. Pareceram-me bastante gentis e interessadas. Estão certamente em boas mãos. Beijos a todos e meu obrigado à Professora Célia.