quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Declaração de voto era registrada na... Cadeia Pública...

Não me lembro da carteira de identidade do meu avô Dante de Favilla, mas o título de eleitor dele foi parar entre as relíquias do meu pai, Dário. Eu era criança e ouvia histórias de eleições aqui na região de Ouro Fino, até o início da década de 30, período também chamado de República das Espadas ou dos coronéis com patente adquirida por mérito ou dinheiro.

No império, havia eleições, mas os eleitores só obtinham inscrição para votar se comprovassem certo de nível de renda. Ou seja precisavam ser proprietários, principalmente de terras. Cerca de um por cento da população brasileira votava, então. O que significa em torno de 120 mil eleitores dentre 12 milhões de habitantes. Pobres e mulheres não votavam. A República tratou de excluí-los também. Impediu o voto dos analfabetos, alijando do processo eleitoral os homens analfabetos, quase a totalidade pobres. Mulheres, pobres ou ricas, não votavam, nem as alfabetizadas e nem mesmo as cultas.

Vô Dante contava que se fazia fila de votação diante do prédio da Cadeia Pública, demolida para a construção da atual Rodoviária. Como o voto não era secreto e o local de votação era a cadeia, imagina quem sempre ganhava? Claro que a situação, não é mesmo?

Pessoas como meu avô eram da categoria dos intocáveis, dos que podiam votar na oposição sem medo. Tinha o dom de não ter inimigos políticos. Era de oposição, mas não fazia proselitismo. Quando teve um Café, Bar e Sorveteria, no início da década de 50, ali ao lado de onde foi a Casa Monteiro, hoje um edifício alto, na esquina da Rua 13, tratou de mantê-lo como espaço democrático. Quem quisesse brigar teria que fazê-lo na rua e bem longe. Então já haviámos ultrapassado também o segundo período da Velha República, também conhecida como a dos Bacharéis, quando os presidentes foram todos advogados.

Quando nasci, em janeiro de 1950, politicamente a cidade se dividia entre seguidores do PSD e da UDN. Os Favilla, gente da cidade, eram PSD. Os Pellicanos, família da minha mãe, gente da roça, eram UDN. E nem por isso houve alguma tragédia do tipo Romeu e Julieta. Já vivíamos novos tempos.

No Brasil, o voto secreto foi implantado, pela primeira vez, no pleito de 1925 do Centro Acadêmico XI de Agosto, entidade que representa até hoje os estudantes da Faculdade de Direito da USP. Posteriormente, houve uma experiência, em Minas Gerais, por Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, em 1929, em uma votação suplementar para vereador. Mas só foi institucionalizado, em 1932, pelo primeiro Código Eleitoral.

Os fatos aqui narrados são passíveis de revisão porque foram organizados de memória, baseados em conversas com os mais antigos das famílias Favilla e Pellicano.

http://twitter.com/clarafavilla



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